Uma mulher de 77 anos viu um comboio passar-lhe literalmente por cima em Barroselas, Viana do Castelo, mas não sofreu um único arranhão nem o seu coração deu sinais de fraqueza, apesar dos problemas cardíacos que a apoquentam.
«Posso-me gabar que aguentei com um comboio em cima de mim», brinca, hoje, Maria Delores Ramos, já refeita do susto que apanhou a 15 de Fevereiro, na antiga passagem de nível de Teixe, em Barroselas, entretanto encerrada e substituída por um viaduto.
Nesse dia, a «tia Delores» decidiu atravessar a linha do caminho-de-ferro por aquele local, para evitar dar uma volta «muito grande», mas ao transpor um carril caiu e não conseguiu voltar a levantar-se, por causa da artrose que lhe debilita as pernas.
Esperou por ajuda, mas ninguém passou
«A muito custo, lá me consegui sentar no meio da linha, e por ali fiquei seguramente uns dez minutos, à espera que alguém passasse para me ajudar. Mas não passou ninguém. Quem passou foi o comboio. Foi Deus e Nossa Senhora de Fátima que me salvaram», conta a idosa.
Não esconde os momentos aterradores por que passou quando olhou em frente e viu o comboio aproximar-se na sua direcção.
«Ainda esbracejei a ver se o maquinista me via no meio da linha, mas qual quê?», acrescenta, sempre com umas gargalhadas à mistura.
Deitou-se na linha...
Denotando um sangue-frio e uma lucidez impressionantes, Maria Delores deitou-se ao longo da linha e ficou ali «quietinha e muito direitinha», à espera que o comboio lhe passasse por cima.
«Olhe, comecei a rezar e a pedir perdão a Deus pelos meus pecados. Mas quando vi que a primeira carruagem passou por cima de mim e nem me tocou, pensei logo que estava safa. E safei-me mesmo», acrescenta.
O comboio acabou por parar, cobrindo ainda parte do corpo da mulher, e o maquinista foi a correr ver o que se tinha passado, tendo fico «embasbacado» quando a viu sã e salva, «sem um único arranhão».
«Vieram logo outras pessoas, levantaram-me e ficaram a segurar-me, mas eu disse-lhes logo que não precisava que me segurassem, porque me aguentava muito bem em pé. Perguntaram-me também se eu estava boa da cabeça, e eu disse que, se calhar, estava melhor do que eles», gracejou.
Levantou-se e seguiu o seu caminho
Mãe de sete filhos e mulher habituada à vida «dura» do campo, Maria Delores sacudiu a terra da roupa e lá seguiu a sua viagem, porque nesse dia tinha combinado ir com uma filha a Viana do Castelo «tratar de umas coisas».
E também para «agradecer a Deus», porque mãe e filha foram direitinhas à Matriz de Viana do Castelo «pagar» pelo milagre que tinha acabado de acontecer.
«Nesse dia, por acaso, até dormi muito bem. No outro a seguir é que o meu coração começou a bater com muita força, mas meti um comprimido debaixo da língua e passou logo», garante Maria Delores, que sofre também de uma angina de peito.
Agora, e sempre que tem oportunidade, dá uma espreitadela nos comboios que lhe passam mesmo ao pé da porta, como que para tentar perceber como é que ainda está viva depois de «um monstro daqueles» lhe ter passado cima. «Às vezes, baixo-me para ver a altura [que vai da parte de baixo do comboio até à linha]. E olhe que, às vezes, até me arrepio».
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